Apesar da crença popular, existem males que vem do natural e produtos não naturais que melhoram as condições de vida.
Eduardo Reymond
O pensamento de que “se é natural, é bom” é uma suposição predominante na sociedade, mas nem sempre essa ideia reflete a realidade. O biólogo David Marçal, comenta na revista “Publicidade” que “o arsênio é natural, mas uma dose de apenas 75mg já pode matar”. O conceito “natural” é muitas vezes associado à pureza e saúde, mas o fato de algo ser natural não garante segurança ou qualidade.
Embora os produtos e alimentos naturais sejam vistos como mais saudáveis, muitos deles são compostos por substâncias sintéticas e químicas. Marçal também observa que existem produtos orgânicos, por exemplo, que são processados com conservantes e químicos. “A ‘carne’ feita para vegetarianos tem muitos outros componentes químicos que o compõem para ter o gosto e aparência de uma carne legítima”, diz.
A nutricionista Karina Gabana também reforça a ideia de que na indústria alimentícia os produtos light, diet ou fit não tornam os alimentos necessariamente mais saudáveis. “Não podemos esquecer que mesmo sendo aparentemente ‘mais saudável’, ele continua sendo um alimento ultraprocessado”, comenta.
Lado escuro do natural
A natureza também é fonte de perigos. Ingredientes tóxicos, venenos, vírus e até os efeitos destrutivos do clima, como tempestades e o excesso de radiação solar, são parte de um sistema ecológico que pode ser mortal para os seres humanos. A natureza é ampla e o que é natural pode ter efeitos adversos que o tornam indesejável ou até prejudicial: cocaína; morfina; penicilina; colesterol e álcool são todos naturais.
O filósofo John Stuart, reflete sobre o tópico em seu artigo intitulado “Natureza”. “Ou é certo que devemos matar porque a natureza mata; torturar porque a natureza tortura; arruinar e devastar porque a natureza faz o mesmo; ou não devemos considerar o que a natureza faz, mas fazer o que é bom fazer”, reflete.
Stuart mostra que na natureza existe a seleção natural, que envolve competição mortal por recursos e adaptação. “Se for aceitar o natural como sendo sempre o ideal, deve-se também aceitar tudo, caso contrário não acreditamos realmente que algo é melhor só porque é natural”, pontua.
Olhar equilibrado para o termo
Marçal aponta que as invenções e os avanços da tecnologia fizeram um papel crucial na proteção e melhora das condições de vida. “Equipamentos, máquinas, roupas e cosméticos são produtos manipulados pelo ser humano e são exemplos que melhoraram as condições de vida”, fala. Mesmo diante de condições naturais que, sem essas utilidades, seriam extremamente prejudiciais.
Todavia, negar o natural também é outro extremo. A médica Jennifer Lima mostra que “existem os alimentos, remédios e produtos de origem natural que são benéficos, fazem bem à saúde e melhoram as condições de vida, não devemos negar isso”. No natural existem perigos e benefícios, dessa forma é sempre bom manter a coerência e o equilíbrio.
